Atualizado em 01/02/2025
Por Marcelo Miguel
No final dos anos de 1990, a construção de uma rodovia na região da Grande Florianópolis/SC, deu início a discussão que se estende até os dias de hoje e que pode impactar profundamente todos os povos indígenas do Brasil.
Foto de Marcelo Miguel
O Morro dos Cavalos é uma Terra Indígena localizada em Palhoça/SC, região Metropolitana de Florianópolis/SC, habitada por aproximadamente 45 famílias do Povo Guarani, e um dos poucos territórios que já tinham seus registros de demarcação homologados.
Mesmo assim, com o propósito de ampliar e modificar o traçado da rodovia BR-101, os Governos Estadual e Federal solicitaram a anulação da demarcação destas terras indígenas para poder retirar os Guarani de sua terra natal e desapropria=los.
Não bastasse a ação dos Governos, os moradores do Morro dos Cavalos, passaram desde então a sofrer ameaças e atentados promovidos tanto por invasores como por pessoas que em nome da expansão e do progresso defendiam a construção da rodovia.
Tudo isso fez com que os indígenas buscassem seus direitos na justiça, e desde 2016 um processo corre no STF. Aqueles que defendem a anulação da demarcação destas terras, para construir uma argumentação que justificasse sua solicitação, criaram a tese do chamado Marco Temporal, que estabelece a possibilidade de anulação de processos demarcatórios de áreas e de povos que não ocupavam suas terras antes da Constituição de 1988.
Esta tese relativa a este processo está sendo julgada, e caso seja a vencedora e reconhecida pela justiça pode abrir um precedente que dará o direito aos governantes e demais interessados em questionar outras demarcações, colocando em risco centenas de povos indígenas.
Por isso, os povos originários do Brasil estão iniciando no próximo mês de junho, mais uma jornada de lutas contra a ameaça do Marco Temporal.
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) está convocando uma ampla mobilização prevista para o dia 23 de junho, em Brasília/DF, data em que estará em pauta o Recurso Extraordinário (RE) n.º 1.017.365.
Os povos Xokleng, Kaingang e Guarani da Terra Indígena Xokleng La Klaño, do Estado de Santa Catarina, são o foco deste processo, no entanto, ele foi considerado pela Suprema Corte em 2020 como caso de Repercussão Geral, ou seja, poderá afetar a todos os povos do Brasil.
A tese do Marco Temporal quer estabelecer que os povos indígenas teriam direito somente às terras em que tivessem a posse física na data de 5 de outubro de 1988, data da promulgação da atual Constituição Federal. Isso significa um grande retrocesso nos processos de demarcação e no reconhecimento do Brasil como um território plenamente povoado pelos indígenas antes da invasão portuguesa. Esta tese desconsidera o direito originário, nato, congênito dos povos que ocupam tradicionalmente seus territórios, isto é, uma posse anterior à invenção de quaisquer outros direitos e da própria formação do Estado Nacional brasileiro.
A iminência de aprovação desta tese multiplica
as invasões de territórios indígenas, os conflitos e atos de violência, especialmente por garimpeiros, grileiros de terras e representantes do agronegócio, interessados na madeira do desmatamento e produção de commodities para exportação. Estes, por sua vez, estão representados no Congresso Nacional pelas bancadas compostas majoritariamente de ruralistas e evangélicos, que tentam cercear direitos fundamentais com os Projetos de Lei: 490/2007, do Marco Temporal; 191/2020, da Mineração em Terras Indígenas; 2633/2020 e 510/2021, da grilagem de terras públicas.
A Apib ressalta que caso haja o adiamento da votação, a mobilização irá se estender de 27 a 30 de junho e, neste caso, todos os demais povos serão convocados para se solidarizar na luta. “Neste momento político de graves ameaças e atropelos aos nossos direitos, sobretudo territoriais, é fundamental fazermos todos e todas o maior esforço para unificar o nosso pensamento e ação a fim de que a nossa luta seja mais forte e garanta o bem viver tão almejado pelos nossos ancestrais, que lutaram para assegurar esses direitos, para nós e as nossas futuras gerações”, afirma a chamado enviado as bases, povos e organizações indígenas de todas as partes do Brasil.
*Informações extraídas do site da APIB.
Você pode obter mais inbformações no site www.apiboficial.org